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sábado, 6 de outubro de 2012

BOAS FESTAS - José M. Raposo


 BOAS FESTAS


Na quadra do Natal, na freguesia onde eu nasci, costumávamos nos juntar em grupo e íamos de casa em casa cantando a dar as Boas Festas. A esses grupos chamávamos “Capelas”. Desconheço a razão para o nome. E então era comum dizer-se: “Vamos tirar uma capela a casa do tio fulano ou do tio cicrano”.
No dia primeiro deste mês, vínhamos de viagem do Sul da Califórnia, eu, meu primo Abel Raposo e sua esposa Eduarda, e disse para eles: “Vamos tirar uma capela a casa do Tony Carvalho”. Eles concordaram e eu telefonei ao Mário Teixeira (o Marinho) para dizer que passaríamos por Riverdale. O Marinho aprontou logo o violão, telefonou ao Tony  que andava a caçar, aos coelhos, claro, e por volta do meio dia, estávamos em sua casa.
Convém dizer agora um percalço que me aconteceu, há dias, quando eu fui comprar chicharros à padaria Nove Ilhas, em Rohnert Park. Peguei os chicarros que havia previamente encomendado, parei em Novato, em casa de minha irmã, para deixar os que eram para ela. Esqueci-me de fechar a porta de trás do “pick up” e os chicharros ficaram espalhados no “freeway”, entre Novato e San Rafael. Ainda fiz a viagem em sentido contrário, mas não os encontrei, nem a caixa onde os tinha.
            Ao chegarmos à casa do Tony, ele e a esposa apresentam-nos uma boa fritada de chicharros para o almoço. Eu lhe pergunto onde os tinha comprado e ele responde prontamente: “Não comprei nada! Eu ia a passar no “freeway” o outro dia e vejo uma quantidade de chicharros a correrem pelo “freeway” abaixo, parei o “pick up” e enchi um saco. Até pensei que era o fim do mundo. Chicharros a nadarem no “freeway”! Nunca vi tal coisa. Já todos sabiam do que me havia acontecido e foi gargalhada grossa.
Depois do jantar começa o Marinho a tocar viola, o Abel e Tony a cantarem e eu também, lá uma vez que outra, fazia uma cantiga, desafinado como sempre, mas lá fazia! A cantoria prolongou.-se e é, realmente, impressionante a facilidade que o Tony tem para cantar ao desafio. Um homem que veio para a América com nove anos de idade, mas tem no coração e na alma o dom de fazer cantigas.
Numa parte da casa, ele tem um pequeno museu, com uma boa quantidade de artefactos trazidos dos Açores, entre os quais se encontram todos os apetrechos para ir de Romeiro, que pertenceram a um irmão seu, já falecido. Tanto o Tony quanto o Abel disseram que gostariam de ir de romeiro e eu acrescentei que desde criança, sempre quis o mesmo, não pela parte religiosa, mas, para dar a volta à ilha a pé. Quem sabe, talvez, um dia possamos sair os três daqui da Califórnia, para ir numa romaria?
O Tony mostra um saco que os romeiros usam e diz: “a invenção do “Back pack” revolucionou a vida americana, porém, afinal, já existe em São Miguel há umas centenas de anos. Nós estamos mais avançados!
Como que por artes mágicas, aparece um pandeiro que os foliões usam. Foi a altura de cantar a folia à moda da Bretanha. Seis horas da tarde e ainda estávamos em Riverdale a cantar e a beber uns copos, aqueles que podiam e a quem os diabetes deixavam.
Estávamos a preparar-nos para seguir viagem de regresso a casa e o Tony oferece os coelhos a meu primo Abel e a sua mulher diz que só os levaria se estivessem limpos. O Sr. Pereira que havia aparecido aí, coloca lenha dentro de um bidão de 50 galões, larga-lhe lume e serviu para nos aquecer, pois que fazia bastante frio e era noite. O Marinho arregaça as mangas da camisa, o Tony pega na navalha e eu fui arrancando as peles e dentro de pouco tempo os coelhos e as lebres estavam esfolados. Às tantas, meu primo Abel estava com um coelho na mão, já todo esfolado, e eu disse: “faz uma cantiga a esse coelho”. Ele olha para o coelho como quem estava à procura do órgão sexual  do mesmo e diz:

“Quanto mais eu procuro,
Muito menos eu acho”
E, olhando para mim, ficou parado como se se tivesse esquecido do resto da cantiga. O Tony, não espera que ele acabe e diz:
“Não é mole nem é duro
  Não é fêmea nem é macho”.
Foram umas horas bem passadas, que me fizeram lembrar os natais da minha infância, quando íamos à Missa do Galo e o resto da noite era passado, cantando de casa em casa, a provar biscoitos  e os saborosos licores, feitos por essa época, e que eram chamados de “Mijinha do Menino”. Se por acaso havia algum grupo onde ninguém cantasse, batiam às portas, da mesma maneira, e diziam que era uma capela mouca. Quando os donos da casa abriam a porta, então alguém do grupo perguntava: “O Menino mija?”
O Menino da minha freguesia era pobre, entretanto, sempre havia uns licores de banana, de morango, de limão, de tangerina e de todas as mais essências que se podia comprar naquela altura. O Menino aqui desta Califórnia é mais rico, mas o que interessa não é a riqueza e, sim, que haja paz, harmonia, felicidade e amor e, na minha opinião, não se deve esperar só pela época do Natal para visitar os amigos e ajudar os desamparados. Vamos então ver se fazemos de todos os outros dias, um dia de Natal.


Boas Festas!



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