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segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

ATE UM DIA AMIGO - José M. Raposo e Elen de Moraes Kochman



 



Até um dia, meu amigo

 
Elen de Moraes
 
À pressa, pegou o comboio que o levaria em sua longa e derradeira viagem. Seguiu sem se despedir, sem tempo para um último abraço, sem dizer adeus. Estava lá, no horário marcado!
 
Tomou assento à janela e viu as flores do jardim da sua vida terrena despetalando-se, lentamente, enquanto perdiam a expressividade das suas cores. As pétalas caídas, levadas pelo vento, plainavam alegres até se perderem no horizonte e, em busca do infinito, cantavam:
“Rainha cheia de brilhos,
Mãe deste teu filho amigo,
Que me livra dos sarilhos,
Da desgraça e do perigo,
Depois de eu criar meus filhos
Estou pronto a ir contigo!”
 
Na vida que se congelava, sentiu sua alma mergulhar no hiato que se fez entre sua matéria e seu espírito e, imortal, levantar vôo rumo à eternidade para tomar posse de um novo tempo. Viu-a banhar-se, pelo caminho, nas “Fontes de Lágrimas” e juntar, num belo rosário, as contas das suas doces recordações:
 
“O tempo passa e a saudade fica. Fontes de lágrimas renascem...

Quem me faria acreditar que a meninice e a juventude me fugissem! Quem me faria acreditar que a velhice chegaria! Ninguém o faria. Mas hoje me soam as benditas palavras dos antigos: “Este mundo não é nosso e a vida são dois dias.” E se recordar é viver...
 
 
Recordo a camisa ponteada, as calças remendadas e os pés nus pelo chão, calcando as pedrinhas da rua;
recordo o saboroso pão trabalhado à miséria e eu faminto;
recordo as pobres palhas onde adormecia e sonhava, a velha manta que me cobria nas geladas noites de inverno e o quarto defumado pela candeia;
recordo a boa professora que me ensinou a escrever a palavra saudade e o saudoso vigário que, com suas santas mãos, me baptizou com a água, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. E foi ele quem pela primeira vez, desvendou minha boca com o corpo de Jesus;
recordo o Império do Divino Espírito Santo, a despensa onde se guardavam as esmolas e as Sociedades onde passei parte da minha juventude;
Ai que saudades de ti, minha aldeia, a quem deitaram o lindo nome de Altares, berço de homens honrados, assim como este teu filho imigrado que vê brotar entre suspiros de saudade e o amor que sente por ti, suas eternas fontes de lágrimas!
Lá distante, Deus te abençoe, ALTARES.”

 
Talvez, seu ultimo olhar tenha sido para sua ilha Terceira, antes de cruzar os umbrais que o levariam aos braços de Deus, seu Pai muito amado, e por ele, tantas vezes, em seus versos, entronizado.
 
Morreu o Poeta? Não! O Poeta não morre: imortaliza-se através da sua obra.
 
E Daniel Arruda, além de perpetuar-se na sua descendência, no amor da sua companheira e no carinho dos seus diletos amigos, terá seu nome lembrado pelos seus poemas, pelos seus versos instigantes e cheios de bom humor, como Cantador ao desafio e pelos seus dramas de carnaval, todos eternizados no livro “Em busca de um sonho”.
 
Soube da morte do Daniel por Angelina Bertão, sua amiga, e enquanto ela me dava a noticia, entristecida lembrei as muitas horas dos serões que ele, eu e José Raposo fizemos durante a correção dos seus poemas, momentos de alegrias e choros emocionados, que estreitaram nossos laços de amizade. Resolvi telefonar para comentar com José sobre o acontecimento e como ele ainda não estava a par, resolvi deixar com isilda a tarefa de dar-lhe a triste notícia.
 
 
O DANIEL MORREU!
 
José M. Raposo
 
 
Disse-me a minha mulher e em seguida perguntei-lhe como ficou sabendo. Respondeu-me que a Elen chamou do Brasil a dar a notícia.
 
Entristeci-me, imensamente, e pensei: pelo menos acabou de penar e conseguiu realizar o seu último grande sonho.
 
Há anos, como sabem, o Daniel me disse que o seu sonho era publicar um livro antes de morrer. Não foi fácil e se não fosse a ajuda de tanta boa gente, o sonho do Daniel nunca passaria de um sonho. Houve quem abriu a carteira para o ajudar;  houve quem não pôde ajudar monetariamente, mas ajudou de outra forma; houve quem imediatamente recusou a ajuda no que quer que fosse e houve, ainda,  quem prometeu muito, que se deslocaria de Portugal para vir ao lançamento do livro e que traria um cheque de mil euros e essa pessoa não veio e esse cheque nunca chegou. Não obstante o seu nome figura na lista dos contribuintes. Quando eu contei ao Daniel que esse senhor comendador havia prometido tal quantia, ele disse: - Oh, José, quando a esmola é muito grande o santo desconfia!
 
E houve, também, alguém que quis lixar o Daniel, depois de se ter feito as festas do lançamento do livro e que conseguiu fazer negros muitos meses da sua vida.
 
O Daniel não era perfeito, ninguém é, porém foi uma pessoa sincera, que ajudou a comunidade no que pôde e a comunidade soube retribuir quando ele precisou de ajuda.
 
Numa fase da sua vida, o Daniel serviu de pai e de mãe para os seus filhos. Lembro-me de uma cantoria que fomos fazer em Buach, para angariar fundos para o Azores Relief Fund, e os filhos do Daniel foram connosco. Estavam bem vestidos e portaram-se muito bem durante a viagem de ida, durante a estadia em Buach e durante a viagem de regresso. Ainda hoje a filha mais nova do Daniel, a Falícia, fala nessa viagem.
 
Durante o tempo que eu e a Elen ajudamos ao Daniel na correcção do seu livro, nos rimos muito, zangamo-nos e, muitas vezes, choramos os três juntos. Lembro-me de um poema que ele escreveu e que acabava nestes termos:
“.... estás entregue a satanás.”
 
Eu disse: - Ó Daniel por pior que essa mulher tenha sido, não digas uma coisa dessas. Quando se diz uma cantiga em cima de um palco, a maior parte das vezes as pessoas não se lembram do que foi dito, mas o que se escreve fica para sempre.
 
O Daniel era pessoa de pouca escola, no entanto, era um óptimo repentista e há, para aí, outros tantos que não ficam atrás. Há tempos, na Tribuna Portuguesa, foi lançado o alvitre para se fazer, aqui na Califórnia, como que um congresso de Cantadores ao Desafio. Eu disse que estaria pronto a ajudar. Talvez, não devesse ter-me oferecido! Deveria ter esperado que pedissem a minha ajuda, pois a ideia não vingou... Que eu saiba, o casal Beirão, de Napa, foram as únicas pessoas, até hoje, que fizeram uma festa para honrar os Cantadores ao Desafio.
 
Temos uma Organização, a Portuguese Heritage Publication of California, que tem feito lançamentos e publicado alguns Poetas e Escritores de grande talento, na nossa comunidade. A maioria dos Cantadores ao Desafio - como o Daniel - são pessoas que não têm a cultura e o saber desses outros intelectuais, mas, são gentes que também enriquecem, preservam e difundem a nossa cultura, são gentes que têm talento e valor. Não foram à escola para aprender a escrever poemas, porém a arte nasceu com eles e, se bem que a Portuguese Heritage Publication of California e os seus responsáveis tenham feito um excelente trabalho, seria uma óptima ideia se tal organização chamasse a si a responsabilidade de publicar um livro sobre os cantadores ao desafio, aqui da Califórnia. Isso só poderia vir a contribuir para o prestígio de tal organização e deixar para as gerações futuras algo do qual nos poderíamos todos orgulhar. O Daniel  realizou o seu sonho: deixou escrito suas danças, suas cantigas e seus poemas e assim viverá, eternamente, na memória dos Portugueses da California, da sua Terceira, dos seus amigos e dos amantes das cantorias ao desafio.
 
Não pude ir ao funeral, mas fui ao rosário e fiquei deveras comovido quando, talvez, pela primeira vez na Igreja Nacional Portuguesa das Cinco Chagas se ouviu as vozes dos cantadores ao desafio, acompanhadas pela guitarra e violão a prestar homenagem a alguém.  Mais comovido ainda fiquei quando a voz do Luíz quebrou o silêncio sepulcral, ao cantar um lindo fado enquanto o caixão com corpo do Daniel saía da Igreja.
 
À família enlutada as nossas condolências. Paz à sua alma.

 
 
 

NÃO SEI... - José M. Raposo




NÃO SEI...


Falar sobre pessoas que já morreram e dizer que eles eram uns santos isso é muito fácil. Eu até costumo a dizer que se bem que não seja rico, daria tudo o que tenho para morrer pela manhã e voltar à noite só para escutar o que certas pessoas diriam de mim.

Alguns sei o que diriam, outros, porém, é difícil de adivinhar quais são os seus sentimentos porque o que dizem da boca para fora não é o que lhes vai lá dentro. Mas deixemos isso para lá. Vem esta minha introdução a propósito de alguém na nossa comunidade querer beatificar um padre que morreu há tempos e que como nós sabemos, se bem que o homem deveria ter algumas coisas boas, foi pelas más que ele é lembrado por muitos.

No entanto, perdemos um, o padre Macedo que na minha opinião foi um grande Homem. Tive o prazer de contactar, falar e discutir com ele, sim discutir, várias vezes e achei nele sempre um indivíduo de bom carácter. Quando o via arranjava sempre maneira de falar sobre um daqueles pontos da Bíblia que para mim não fazem sentido. E ele, sempre muito delicado me dava a sua opinião não só como sacerdote que acredita que a Bíblia é a palavra de Deus, sim porque eu sou capaz de jurar que alguns padres há que se bem que vistam a batina e todos os parâmetros que manda a Santa Madre Igreja aquilo para eles é unica e simplesmente uma maneira de ganhar a vida. Mas, o padre Macedo além de padre era um homem com dignidade, trabalhador, amigo do próximo e sempre pronto a ajudar sem que precisassem pedir.

Várias vezes lhe telefonei para lhe fazer uma ou outra pergunta e fui sempre bem atendido. Durante uns anos íamos todas as primeiras sextas-feiras do mês ao Centro Leonino a São José ao almoço dos amigos da Ribeira Grande. Enquanto ele pude, estava sempre presente. Se os amigos da Ribeira Grande não tiverem lugar no céu não deve ser por falta do padre Macedo e já agora do padre Ferreira, meu amigo também, não terem intercedido nas suas rezas por eles.

Sei que há pessoas com muitos mais conhecimentos do que eu para falarem sobre o padre Macedo. Um homem que se incorporava nas nossas paradas a tocar o seu saxofone e bem. Uma vez, em Petaluma, uma senhora criticou-o por ser padre e andar a tocar música numa filarmónica. Eu disse para ele:

- O Senhor padre não se preocupe porque se a ignorância e a estupidez pagassem imposto, essa estava toda carimbada.

O padre Macedo quando deixou a Igreja das Cinco Chagas, deixou-a numa boa situação financeira. Um dia destes alguém me disse que eu deveria escrever sobre o que se está a passar com a Igreja das Cinco Chagas. Eu não tenho conhecimento do que se passa exactamente e como não moro em São José, pouco ou nada me interessa tal situação.

Também francamente eu penso que muitos vão à Igreja mais por descargo de consciência, ou para que os outros vejam que eles são bons católicos, do que por devoção. No entanto será de lamentar se os Portugueses perdem o controlo, ou será que já perderam, e ainda não deram por isso, dum dos marcos mais importantes da nossa comunidade em terras Californianas. Algo tem que ser feito e já. O que é? Não sei…

domingo, 2 de dezembro de 2012

CIRANDA - Festas Juninas - Vários autores

Trabalho das imagens: Reinadi Sampaio (Florbela)

Participantes:
1 - Neila Costa - Natal - Rio Grande do Norte - Br
2 - Elen de Moraes - Rio de Janeiro - Br
3 - Tera Sá - Portugal
4 - Jose M. Raposo - California -
5 - Machado Ribeiro - California
6 - Reinadi Sampaio - Cruz das Almas - Ba
7 - Ana Maria - Bahia
MOÇA DA ROÇA


Jose M. Raposo


Eu a todos cumprimento,
Pois o convite aceitei,
Por vir ao sabor do vento,
Foi que eu tarde cheguei.


Na ciranda vou entrar
Com todo o meu coração.
E graças tenho a dar
A Santo António e São João.


E eu quero agradecer
À Santa Virgem mãe nossa,
Por agora conhecer
Essa menina da roça.


O teu corpo, aveludado,
É lindo como a violeta
E o teu gracioso bailado,
Faz lembrar a borboleta.


Teus olhos, duas boninas
De um tom belo, acastanhado.
Teus seios, duas colinas
Onde brilha o sol doirado.


Eu pude sentir o amor
Nesse olhar que tu me deste.
Na tua boca o sabor
De doce amora silvestre.


Responde a esse convite
E verás, não há perigo,
Vai te passar a artrite.
Vem para a festa comigo!


A Santo António pedir
E a São João vou implorar
P’ra São Pedro vir abrir
Porta p’ra gente casar.


No cabelo flor singela,
P’ra quem quiser ver e possa,
Que não há moça mais bela
Do que a moça lá da roça.
 

ARRASTA PÉ

Elen de Moraes


Recebi vosso convite
Pra festa do arrasta pé,
Mas a dor da minha artrite,
Está me dando um olé!

Gostaria de ir à festa
Pra namorado arrumar,
Porém a dor me contesta!
Como é que vou me aprumar?

Queria comer canjica,
Muita paçoca também.
Ai, que meu corpo pinica
De saudade do meu bem!

E estar naquela barraca
P'ros beijoqueiros armada...
Só de pensar, dá ressaca,
Mas fico toda animada.

Saborear broa de milho,
Pé de moleque comer,
Hummm... biscoitos de polvilho
E muito quentão beber.

Sem falar no milho assado
E na pamonha famosa.
Ai que desejo danado!
Já estou ficando ansiosa.

Ver lá no céu os balões,
Fogos fazerem zoeira,
Mesmo levando empurrões
Na beirada da fogueira.

Mas co'essa dor infernal
Que os ossos me roem lento,
Como ir a esse arraial
Se a festa será ao relento?

Tenho que tomar juízo
E na cama me enfiar
Lá então eu analiso
Como vou me conformar.

Mas antes mando um recado
Pr’aquele homem solteiro
Não se sentir rejeitado,
Se esperou o ano inteiro
e viu agora negado

Seu pedido - que foi feito -
Ao Bendito Santo Antonio,
O Santo casamenteiro.
Que se dê por satisfeito
E que aguarde o matrimonio
Com seu amor verdadeiro!

Termino beijo enviando
P'ra todos desse arraial.
Votos que sigam se amando,
Pois ser feliz não é mal.


São João em Cruz das Almas

florbellaba,

em Jun 13/2009


Me desculpem os repentistas
Métrica não sei fazer,
Também os apologistas
Desta forma de escrever.

Minha "Alma em Pedaços"~
Lamenta e chora infeliz
E aqui no meu espaço
Tal festa nada me diz!

É um tal de ferir gente
A justiça fecha o olho
Morrer aqui é freqüente
Prolifera qual repolho.

Nessa guerra de espada
Desses festejos juninos
A vida não vale nada!
Divertimentos cretinos.

Ir à festa é um perigo
Um confronto em cada esquina
Entender eu não consigo
Esta guerra assassina.

Nessa "guerra de espadas"
Morre menino e adulto,
Mães choram desesperadas
Em terra de povo (in)culto.

Não é certo a população
Passar tanto sofrimento
E ninguém dá solução
A tão bárbaro evento.

Pois me lembra a escravidão!
Esta grande violência
Não mostra a televisão,
Pois sustenta a opulência.

Um juiz, de certa feita
Proibiu a tal peleja
Pros poderosos, desfeita!
Que o São João nos proteja.

Pois, então meu caro amigo
Como ir a esse arraiá
Me divirto aqui contigo
Com seus versos a "proseá"?.

Pois, olha, no meu Sertão
Lá, sim, era brincadeira,
Alegrava o coração
Pular aquela fogueira

Candidato aparecia
Vinha de todos os lados
Aos santos agradecia
E enviava recados.

Tinha quadrilha e fita
No pau que o vento açoitava.
E amor à primeira vista
Nos braços d'alguem achava.

E dançava a noite inteira
Na maior das euforias
Sem espada traiçoeira
Pra acabar co'as alegrias.

Para mim chega de rima
Não suporto "enquadramento"
Isso já me desanima
Chega ser grande tormento.

Segundo Ato:

Já havia dado por terminado
Meu "desafio" em português
Mas, lembrei-me de um Dr, amigo afastado
Que como tu, também fala inglês.

Recorri à memória
Para te contar uma novidade:
Não sei se sabes da nossa história
Mas vou contar-la em "breviandade".

Nossa primeira ferrovia
Construída no Maranhão,
Foi feita com muita alegria
E pelos ingleses sua construção.

Anunciavam "ao sabor do vento"
Festa pra todos - for all -
Pra grandiosidade do monumento.
E assim nasceu o "Forró"!

Mas dizem outros também
Que da África veio o forró
Pra eles digo aleluia e amém
Nasceu nosso "forrobodó"!

Quando a televisão se empenha,
Mete verdade "pelo cano"
Noticias correm como "se qué"
e mesmo que a invenção se mantenha
entre ingleses e o pobre escravo africano
Prevalece quem "mió" é...
Ó, ó, ó, yessssssssssss!!

Reinadi Sampaio.
Cruz das Almas, São João de 2009.

Caro amigo,

Vim deixar a minha historia
de festa junina.
        Gostei da brincadeira.
       História verdadeira

Machado Ribeiro


Em noite de são joão
Começou a brincadeira
Em casa do Helio Beirão
Acendemos a fogueira.

Como é velha tradição
Ver quem mais salta a fogueira
No meio da confusão
Só podia dar besteira.

Era forte o clarão
Não se via o outro lado
Foi nessa altura que então
Ficou tudo estragado.

Eu ia a saltar de cá
Tal como as outras gentes,
Zé Manel salta de lá
Ficamos os dois bem quentes.

Foram-se as sobrancelhas
Cabelo semi-queimado,
Eram rubras as orelhas...
Vi o caso atrapalhado.

A festa continuou
Até ao amanhecer
A fogueira se apagou
Às horas de adormecer.

Esta história é verdadeira
E daqui a conclusão:-
Quem não saltar a fogueira
Não festeja são joão.

Machado Ribeiro.

"ARRAIA" DOS POETAS
Neila Costa


Fiquei pra La de contente,
Quando vieram me chamar
Pra essa festa atraente
E uma quadrilha dançar..

Quem queira participar
Tem que vestir de matuto,
Procurar para seu par
Alguém que não é fajuto.

O vestido que comprei,
É vermelho e tem xadrez.
Flor pro cabelo arrumei!
Tia Simone quem fez.

Na festa estarão presentes
Poetas de muitos lugares!
Que se mostrem experientes
Sem comer só com olhares.

Amigos de Portugal
Vem só pra comer canjica,
Milho e pamonha com sal.
Isso, nenhum Santo explica.

A Elen, por novidade
Disse que ao Santo pedira
Casar com sua Majestade,
Rei que freqüentava a Lira.

Florbella amiga risonha,
Contou-me, pra meu espanto,
Que perdeu toda a vergonha
De beijar em frente ao Santo.

Bem arretado é o José
Pra cantar um desafio!
Pega o santo pelo pé
E o amarra com um fio
Mas não age de má fé!
E pro amor não tem fastio!

Agora, a festa de lado,
Corro pra pegar meu par,
Antes que fique ocupado,
Pois não tiram dele o olhar.

Festa Junina

Annammarya

Noite junina, lindo céu ilumina
Sereno cái, safona geme, grita,
No dançar correto da menina,
corpo mexe, coração agita.

Face rosada, camisa xadrez,
calça rasgada, bem remendada,
bigodes desenhados, matuto de vez.
chapéu de palha, atitude acanhada.

Moçada agitada, levanta poeira,
o padre a dançar, bebe "kentão"
levanta a batina, já na "zoeira"
atravessa a fogueira "animadão".

Rojão no céu, poeira no chão,
paçoca, amendoim, prá reforçar.
Crepita a lenha, fogo no terreirão,
é chegada a hora do namorar.

Vestido de chita, rosto pintado,
aplauso frenético do namorado,
linda menina, nascida na roça.
"flor no cabelo, quiser ver, possa",


Santo Antonio
Tera Sa

A contar me vejo os dias,
Fiando-me no Santo António,
Que por tratos e porfias
Me deve um bom matrimónio...

António, conto contigo,
Que o fio d'oiro maciço
Que ao Santo foi prometido
Será de teu compromisso!

Faz de conta que sou bela
E vivo a fiar-te rendas
António, de mim donzela
Dou-te as melhores oferendas!

Faz-me de contas um fio,
Eu fio-me e faço de conta
Qu' as contas que eu te fio
São contas de pouca monta.

De ti, fido e bom rapaz,
Espero ouros e contos
De reis, pois, qu' eu sou sagaz,
Não fio nem dou descontos!

Mas se não deves fiado,
E' inda tens conta no banco,
Conta comigo, amado,
Fio já um vestido branco!"

E como és bem do meu gosto,
Galante e apessoado,
Conto que lá para Agosto
Serás o meu desposado...

Santo António, o prometido,
Te será pago num fio
De ouro por mim contado...
(no meu António confio...)

 
Agradecimento 

Jose M. Raposo

Venho agora agradecer
         a todos que gentilmente
           vieram aqui responder
             em versos, o meu "repente".

A Elen pede ao Santo
Para um marido lhe dar,
Procura por todo canto
E não o consegue achar,
Pois homem bom eu garanto,
É dificil de encontrar..

O Felipe eu já não sei
Se está bem ou mal casado
Ou se lá em terras d'El Rei
Pelas moças é procurado.

A Florbella deu agora
Para escrever em Inglês
Valha-nos Nossa Senhora
Pelo milagre que fez.

Pois não é que a Ana Maria
Comigo não se encontrou!
E eu não sei se nesse dia
Poeira ela levantou.

Fia-te no Santo, Teresa,
Sem procurar namorado
Encontrarás a surpresa
De o ver com outra casado.

Neila, se o diabo soubesse,
Na ciranda entraria
E se ele o quentão bebesse,
Em santo se tornaria.

O meu amigo ao perder
As sobrancelhas e a perinha
Ficou logo ele a saber
O calor que o Inferno tinha.

Eu já não posso saltar
Fogueiras do São João
Mas 'inda gosto de olhar
Para as moças que lá vão

California, 15/06/2009

OBRIGADO E FELIZ NATAL - José M. Raposo - 15/12/2010



Para ler o jornal online:


OBRIGADO E FELIZ NATAL

José M. Raposo

Sempre prefiro escrever sobre as minhas peripécias ou o  que se passa na nossa comunidade do que escrever sobre meus familiares, mas, hoje resolvi abrir uma exceção, a contragosto das minhas irmãs, pois sei que elas,  talvez,  não vão gostar do facto de lerem sua história no jornal, mesmo tendo sido noticias por trabalhos importantes que prestaram e que tenho agora o prazer de dividir com os amigos.
E como estamos na época do Natal, penso que este seria o melhor presente que poderia dar à toda minha família.
Tenho duas irmãs, uma aqui  na Califórnia e a outra em São Miguel. São ambas professoras e a que está em São Miguel, Maria da Conceição, trabalhou no CATE por 18 anos e depois leccionou em Rabo de Peixe até que se reformou. Durante as horas vagas, que não eram muitas, dedicava-se, e ainda se dedica, a bordarem ponto de cruz. Tem bordado vários trabalhos, como se poderá ver neste link:
http://conceicaosilveira.blogspot.com/

Quando Barrack Obama foi eleito Presidente dos Estados Unidos, ela pensou logo em retratá-lo num bordado. E, se bem pensou, melhor o fez. Depois de trinta e dois mil pontos e talvez muitas picadelas da agulha, o Obama foi bordado. Não sei quantas horas ela gastou, porém, o que é certo é que o quadro foi já entregue no consulado dos Estados Unidos, em Ponta Delgada, e o Sr. Consul, Galvin Sundwall, garantiu que o mesmo chegaria às mãos do Presidente da América. É  impressionante, realmente, o trabalho que ela faz e a perfeição com que o executa. Qualquer foto que tenho visto bordada por ela, incluindo uma do meu filho que temos cá em casa, só sabemos que é uma foto se nos aproximarmos da mesma, pois que vista ao longe parece uma autêntica fotografia da mais alta resolução e não um bordado a ponto cruz.

A minha outra irmã, Luisa, veio para a América para estudar. Matriculou-se na Universidade, porém, por razões particulares, desistiu. Entretanto, mais tarde decidiu voltar à Universidade, tirou o seu mestrado, ou doutora à nossa moda, e é professora. Além de cumprir o seu horário, dedica uma quantidade de horas extraordinárias aos alunos que precisam de mais ajuda, ensina Inglês aos adultos e de verão, em vez de tirar férias, dá escola.

Muitos Sábados e Domingos passa-os na escola a preparar mil e uma coisas. Se há alguma festa em que os professores têm que cozinhar, ela confecciona uma quantidade de iguarias portuguesas, desde as sardinhas até outro prato mais requintado. Os alunos todos gostam dela e este ano foi galardoada com o “Golden Bell”, prémio esse que só  é dado aos professores que se distinguem e é recomendado pelos colegas.

Sei perfeitamente que deve haver outras pessoas que prestam serviços ou fizeram algo digno de valor e nunca são reconhecidas.  Já que estamos na época do Natal, façamos um exame de consciência e se por uma razão ou outra não podermos dar um presente, que ao menos seja dada uma palavra de agradecimento pelo que os nossos amigos e familiares fizeram por nós, ou por alguém. Não é necessário mais do que três palavras

Obrigado e Feliz Natal.
 

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

INSTANTANEOS - José M. Raposo









QUE VÁ PARA O KARASAX - José M. Raposo



 


KE VÁ P’RO KARASAX!


Jose M. Raposo



Ultimamente, tenho pensado no trabalho que vamos ter para reaprender o Português, por causa do acordo ortográfico.

Em Portugal os políticos votaram o acordo que resultou do estudo de muitos linguístas.

Pergunto: se os políticos podem decidir sobre a mudança da nossa língua, por que não dar ao povo o mesmo direito? Neste caso aí vai a minha sugestão e só espero que os filólogos de plantão não se ofendam com a brincadeira.

Eu até sou em favor de suprimir algumas letras que existem no alfabeto português. Temos algumas que têm sons definidos, portanto, para quê usar outras?
Se o “Z” têm o som de “Z”, acabem com esses “s” entre as vogais que tem o som do “Z”;  acabem com o “Ch” e escrevam xocolate; acabem com o “Q nove” e usem o “K”; escrevam “arrox” e não “arroz”; escrevam xávena da mesma forma que se escreve  xícara.

E já agora que o Xá da Pérsia não existe, escrevam Xá para a bebida, seja ele verde ou preto.

E como eu penso desta forma, aqui vai como eu escreveria com as novas regras.

Kuando extava na excola, levei algunx bolox kom a régua por kauza dox errox que kometia nox ditadox.
Ao ler um komentário no meu “facebook” e ao ver a maneira komo algunx dox meux amigox do internet exkrevem, pensei: se o meu profesor fose vivo dar-lhe-ia um atake kardíako e meu pai lá em kaza não fikaria nada satixfeito se me vise exkrever dexta forma. 

O interesante é ke sertax palavrax, não importa kual a maneira komo se exkreve, a pronúncia é a mexma. A minha amiga Elen teve a jentileza de me mandar, komo oferta de anox, além de outrax koisax, um livro sobre o akordo ortográfico entre ox paísex de língua Portugeza. Kontinuam, ainda, sertax diverjênciax entre o Portuguêx falado no Brazil e o Portugêx de Portugal e da maneira ke a malta maix nova extá a uzar ax palavrax, tenho a serteza ke podem fazer ox akordox ke quizerem, vai aver sempre kem excreva doutra forma kualker.

Na minha opinião, não averá maneira alguma de parar exte progreso ou retroseso, komo lhe keiram xamar. E ixto akontese kom todax ax línguax. Por ezemplo, a palavra “night”, em Inglêx, extá a ser subxtituida por “nite”. Klaro ke temox outra palavra kom a mexma pronúnsia e kuja ortografia é diferente, ke é o kazo de “Knight”. E kualker dia o “enough” pasará a ser “enouf” 

Eu já me pronunsiei váriax vezex sobre o kazo do noso Portugêx e do Portugêx Brazileiro. Ker a jente keira, ker não, o Brazil tem kuazi 200 milhõex de pesoax ou já ultrapasou iso. Portanto, um paíx komo o noso ke tem, sei lá, unx 10 milhõex, nunka poderá fazer konkorência em koiza alguma, inkluindo a própria língua.

Quando estava a terminar este meu artigo, resolvi dá-lo ao meu filho para ler. Embora ele tenha menos estudo do que eu em Português, o que ele sabe, sabe! Valeu-lhe o latim que aprendeu em Berkeley nas aulas do distinto professor e nosso amigo Dr. Fernando Silva.

De uma forma ou outra, em poucos anos o Português sofrerá uma transformação e não haverá maneira alguma de parar isso.

O Português é a língua dos “XX”. Já agora escrevam Lixboa.

O meu filho viu que nesta minha cantilena eu havia eliminado por completo o ”C” da língua Portuguesa e pergunta:

Ó pai! E o que vamos fazer com o “C”? Eu respondi:

Ke vá p’ro karasax!

                                                       
                                                   

FLOR DA SERRA - José M. Raposo



Flor da serra

             Para Karla Alessandra


José M. Raposo


Tem estampada no rosto,
Como se fosse um poema,
A beleza dum sol posto,
Lá nas praias de Ipanema.

No coração, com amor,
Numa forma sem igual,
Mora o encanto e o calor
Do Brasil e Portugal.

No seio da natureza,
Teresópolis encantada
Tem agora mais beleza,
Com a nova flor plantada.

Tem misto de divindade
O que essa flor encerra,
Ao encher toda a cidade
Com o perfume da serra.

Ao mirar os olhos seus,
A minha alma não recusa
Que foi o dedo de Deus
Que trouxe ao mundo essa musa.

CA- setembro/2011


LANÇAMENTO DOS LIVROS "ENCRUILHADAS" E "TANGLED" - California - José M. Raposo


Para ler a matéria no Tribuna Portuguesa online,
acessar o link acima.














ONDE ESTÁ PORTUGAL ((Despedida do Consul em S.Francisco) - José M. Raposo




CA - Dezembro/2011

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

BRUMA DA SAUDADE - José M. Raposo




BRUMA DA SAUDADE


Jose M Raposo


A montanha do Pico
Viu-te nascer
E nas ondas do mar
Foste embalada.
Cagarras gritavam
Ao anoitecer.
Envolta em bruma,
A Ilha encantada.
Largos horizontes,
Imensidão de mar,
Agora a saudade
Faz-te voltar.
Marés te levaram,
Marés te trouxeram,
Amor que no cais
Lágrima chorou...
Raios de luz
Por ti lá esperam.
Vindo da terra
O vento soprou.
Nuvens do céu
Lágrimas verteram
E das pedras negras
Para o mar correram.

LÁGRIMAS - José M. Raposo


 

LÁGRIMAS


José M. Raposo 


Lágrimas, geralmente, são de dor,
De tristeza, saudade e nostalgia.
Outras, enchem a alma de alegria,
São as eternas lágrimas de amor.

Com grande desolação e desgosto,
Muitas lágrimas na vida choramos.
Algumas, muitas vezes, enxugamos.
Outras delas, secam em nosso rosto.

Uma lágrima pode ser a cura
Para quem faz ou sofre uma ferida.
Mas, se vier do amor que nos jura

Dar toda a felicidade perdida,
Poderá até apagar a amargura
De outras lágrimas choradas na vida

QUE FIQUEM POR LÁ - José M. Raposo

  
A primeira página do último número da Tribuna Portuguesa, fez-me lembrar alguns bons tempos e deu-me uma reviravolta ao estômago, no entanto, dou os parabéns ao José Ávila pela coragem de abordar o assunto.

Quando eu ocupava o cargo de tesoureiro do Conselho das Comunidades Portuguesas do Norte da Califórnia, certa vez fui escolhido para ir a uma reunião em Danburry e outra na Terceira. O Governo Português pagou-me  todas as passagens e estadias.
Na reunião de Danburry, eu, o Godinho, da Austrália e Bruna Viana, do Canadá, fomos os escolhidos para a mesa da Presidência e sendo eu o único dos Estados Unidos, fui indicado para ocupar o lugar de Presidente. Eu disse ao Sr. Doutor, cujo nome não me lembro agora, que achava bem dar o lugar de Presidente à Bruna Viana, ao que o Sr. disse que não, porque era tradição que o Presidente fosse uma pessoa do país onde se fazia a reunião e que já vinha destinado assim, de Lisboa, portanto eu não tinha outra coisa a fazer a não ser aceitar.

Eu disse, OK e como presidente da mesa, perguntei quais seriam as minhas funções. O Sr respondeu-me que eu dirigiria a reunião de acordo com os estatutos e teria que manter a ordem, que poderia fazer tudo o que quisesse, desde que não fosse contra os estatutos. Quis saber, então, se os mesmos me permitiriam nomear alguém, para algum cargo, ao que ele respondeu que sim.

Chegada a hora de abrir a reunião, agradeci a todos os presentes e o meu primeiro acto, como presidente, foi nomear Bruna Viana para o meu lugar e eu e Godinho ficamos como secretários.

O tal Sr. disse-me que não podia ser, ao que respondi que podia, sim, e que, portanto,  estava usando do poder que ele próprio me havia dado e pedi-lhe por favor, que se calasse,  porque estava fora de ordem e eu não lhe havia dado a palavra.

Escusado será dizer que criei logo um inimigo. A reunião começou e correu bem, com interferência de várias pessoas presentes e até me lembro duma Sra. Cláudia Rios que falou muito bem.

Acabada a reunião, pedi um escriturário para dactiolografar as actas. O tal Sr. Respondeu que não seria necessário, porque as actas vinham já feitas de Lisboa.”
- O quê? Perguntei - O Sr. Dr., tem a ousadia de dizer-me uma coisa dessas? Ou o Sr. arranja-me um escriturário ou eu devolvo o dinheiro da passagem ao Governo Português e vou-me embora para a Califórnia. Apareceu uma menina muito simpática, que ficou comigo até às 2 ou 3 da madrugada a redigir as actas. No outro dia, quando começamos a reunião, uns tantos ou quantos congressistas, que haviam vindo na comitiva de Lisboa, não apareceram. Eu anotei a falta dos mesmos nas actas.
Depois vieram-me pedir para alterá-las, para que incluísse o nome das pessoas que estavam ausentes, ao que recusei. Esses indivíduos vieram passear a custa do erário público e se os seus nomes não constassem das actas, provavelmente que não receberiam ajudas de custo.

Nas outras reuniões, não houve grandes problemas. Os jantares foram formidáveis e não me lembro o nome do salão de reuniões, mas o padre Cachadinha tinha tudo muito bem organizado e até num dos jantares eu cantei à desgarrada, mais o José Gama e tive a oportunidade de ouvir uns fados de Coimbra, na voz do congressista e deputado Caio Roque.

No encerramento das reuniões, eu armei bronca novamente. Uma senhora Ministra de rara Beleza e de boa saúde, que havia aberto as reuniões e depois foi passear, não sei para onde, aparecendo só no dia do encerramento, começou a discursar e eu disse ao companheiro que estava ao lado que se aquela senhora falasse mais de 15 minutos, eu levantar-me-ia e sairia. Ele pediu por todos os Santos que eu não o fizesse. Liguei o cronómetro e os 15 minutos se passaram. Como eu estava na primeira fila de bancos, levantei-me, fui até ao meio da sala e ao sair pelo corredor tive a certeza que o som dos tacões dos meus sapatos ressoaram.

Ela falou por uma hora e quinze minutos e quanto acabou, eu entrei pelo mesmo lugar por onde havia saído.

Como disse, fui uma outra vez, à Terceira. Se bem que depois de levantarmos voo de San Francisco, o avião regressou ao aeroporto por duas vezes e por causa disso perdemos a TAP para Lisboa. Ficamos em Nova York dois dias e uma noite em Lisboa. A American Airlines pagou-nos a estadia em Nova York e deu 100 dólares a cada um de nós (éramos treze, salvo erro), para pagar o hotel e uma noite em Lisboa.  Mas foi uma viagem divertida e os nossos amigos José João e o Eduardo Eusébio podem provar isso. Ainda hoje, quando eu vejo um ou outro, o nosso cumprimento é “Está tudo cego”.  Estou mesmo a ver a gargalhada que eles vão dar quando lerem isto. Para essa reunião da Terceira, levava um discurso bem preparado e ao mostrá-lo a dois senhores aqui da Califórnia que foram e diga-se em abono da verdade, às suas custas, um deles disse que se eu lesse tal discurso, eles se levantariam na reunião e que eu ficaria em problemas. Eu não li o discurso porque não quis mostrar, na Terceira, que há pessoas aqui nesta Califórnia que fomentam a desunião. No fim, apresentei o discurso como um documento para ser anexado às actas e por lá ficaram as minhas palavras.

Uma vez, fui ao consulado Português para levar a Sra. Doutora Fernanda Agria ao aeroporto de São Francisco, porque ela iria a uma reunião em outra cidade da Califórnia. Disse-me ela que a sua passagem estaria no balcão do aeroporto. Perguntei se a mesma estava paga, ao que ela me respondeu que pensava que sim. A menina que nos atendeu, despachou as malas e depois pediu trezentos e não sei quantos dólares. A Sra. Dra. não estava preparada para pagar a passagem e eu puxei do meu cartão de crédito, paguei-a e no outro dia escrevi uma carta para a Embaixada de Portugal, em Washington.

Em menos de uma semana recebi uma resposta, com todos os agradecimentos e um cheque no valor que eu tinha despendido. reembolsando-me. E eu pergunto: como se manda um representante do Governo para o aeroporto, sem passagem paga ou sem o mesmo estar preparado?

Na minha opinião o Conselho das Comunidades Portuguesas nasceu às avessas. As intenções podem ter sido boas, mas foi um autêntico aborto. E desculpa-me Dinis Borges, porque sei que tens trabalhado bastante para o Conselho, tens feito todo o possível para que tanto o Governo dos Açores como o de Lisboa conheçam o Portuguesismo que há nas nossas gentes, enfim, tens dado o teu precioso tempo e embora o grande Fernando Pessoa tivesse dito que tudo vale a pena, eu tenho as minhas dúvidas.

Concordo com o José Ávila quando ele diz que não nos mandem nem secretários nem directores regionais. E eu acho bem. Esses senhores por vezes chegam ao ridículo de brigar por quererem ser os últimos a falar aqui, nas comemorações do dia de Portugal, porque dizem que como vêm representar o Governo Português, têm lugar de honra e são os que devem dizer as últimas palavras.

Eu já disse mais de uma vez: nós temos gente cá para fazer as nossas festas e temos cá um representante do Governo Português e podemos provar a quem quer que seja que continuamos a ter no coração a nossa bandeira, que veio nas nossas malas, não como o símbolo da fome, mas sim como o símbolo da nossa Pátria, que por pior que tenha sido para nós, foi lá que nascemos.

Quanto à RTP não apresentar os programas Califórnia Contacto, será que eles acham que os seus funcionários aqui, não têm nível ou não estão a altura de fazerem os programas? Eu discordo! 

Eu não concordo amigo Zé que venham cá nem os melhores... Só há uma maneira de resolver este assunto: é integrarmo-nos na vida deste país que nos acolheu , sermos bons Americanos, continuarmos com as nossas festas e tradições e esquecermos esses filhos duma gaita que não querem saber de nós para coisa alguma. Também é provável que haja alguma culpa da nossa parte, pois sempre recebemos os representantes do Governo Português de braços abertos, damos do melhor que temos e alguns riem-se de nós. Também nunca sabemos, ao certo, como e com quanto o Governo subsidia os nossos festejos na Califórnia. Nunca vi nas páginas do jornal quais as verbas recebidas e nenhum balanço de contas. Alguém já viu?

E esses senhores Secretários e Directores, que vêm cá fazer nada, quando quiserem vir passear à Califórnia, que venham às suas próprias custas ou então que fiquem por lá..

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